Sunday, April 24, 2005

By Acilina C.

Outras fotos por Acilina


(clicando no canto inferior direito das fotos, pode ampliá-las)



O Parque de Monserrate, outrora quinta de pomares e culturas, existe como tal desde o séc. XVIII, quando Gerard DeVisme alugou a quinta à família Melo e Castro, sua proprietária. Desde então, todos os que se seguiram, William Beckford, a família Cook, o Estado Português e, finalmente, desde Setembro de 2000, a Parques de Sintra, Monte da Lua, S. A., esforçaram-se por criar um maravilhoso jardim botânico, ímpar nas suas características.

Crucial no seu desenvolvimento esteve o que se viria a tornar o 1º Visconde de Monserrate, Francis Cook. Juntamente com o pintor paisagista William Stockdale, o botânico William Nevill e o mestre jardineiro James Burt, criaram-se cenários contrastantes que se sucedem ao longo de caminhos sinuosos por entre ruínas, recantos, cascatas e lagos, sugerindo, através de uma aparente desordem, o domínio da Natureza sobre o Homem.


Assim, e contando sempre com a presença de espécies espontâneas de Portugal (medronheiros, azevinhos, sobreiros, entre outros), organiza o jardim com colecções de plantas de espécies oriundas dos cinco continentes, propondo-nos um passeio pelo mundo: fetos e metrosíderos evocam a Austrália; agaves, palmeiras e yucas recriam um cenário do México; rododendros, azáleas, bambus para o jardim do Japão. No total contabilizaram-se mais de duas mil e quinhentas espécies!



Arco de Vathek. Foi assim baptizado por William Beckford, um milionário escritor inglês que terá vivido cerca de oito anos em Monserrate, os últimos anos do século XVIII. Vathek era o título de um dos seus romances mais famosos, e o arco terá sido a entrada principal de Monserrate antes de a propriedade ser murada.


A história de Monserrate remonta à época em que Portugal se encontrava sob o domínio dos Mouros. Nessa altura, um cavaleiro moçárabe, que vivia na colina onde se situa actualmente o palácio, entrou em conflito com o alcaide do Castelo dos Mouros, acabando por perecer num duelo entre ambos. Terá sido sepultado pelos seus colegas cristãos na colina e, posteriormente, veneraram-no como mártir.


Nesse mesmo local, após a reconquista cristã de Sintra no século XII, pelo rei D. Afonso Henriques, foi construída uma ermida dedicada a Nossa Senhora.
Em 1540, a então Quinta da Bela Vista pertencia ao Hospital de Todos os Santos, em Lisboa. Frei Gaspar Preto, após uma peregrinação ao Eremitério Beneditino de Montserrat na Catalunha, mandou edificar uma capela votiva a Nossa Senhora de Monserrate (daí o nome actual do parque), no local da sepultura do cavaleiro moçárabe.


Em 1601, o Hospital de Todos os Santos aforou Monserrate à família Mello e Castro. D. Caetano de Mello e Castro, comendador de Cristo e vice-rei da Índia, acabou por comprar a propriedade em 1718. A partir de então, a família Mello e Castro, radicada em Goa, administrou a propriedade através de procuradores que, por sua vez, escolhia os rendeiros ou caseiros a quem competia a exploração agrícola da quinta e, quanto muito, a conservação das dependências que utilizavam. Das casas existentes, apenas se sabe que o terramoto de 1755 as tornou inabitáveis.


Os românticos do século XIX buscavam incessantemente a sugestão de evasão, no tempo e no espaço. Procuravam-na, sobretudo, na arte – a literatura, a pintura, a arquitectura e, como no caso dos jardins de Monserrate, a botânica.


Os soberbos jardins que rodeiam o palácio foram concebidos e executados por Stockdale e também por Thomas Gargill que souberam explorar as particularidades micro-climáticas da Serra, obtendo, deste modo, um magnífico parque, no qual se podem observar, ainda hoje, mais de 3.000 espécies exóticas.


A cascata também é da responsabilidade do escritor William Beckford, que construiu represas artificiais para garantir a constância da queda de água, e voltaremos a encontrar marca sua no final do percurso pelo parque, no falso cromeleque que mandou erigir.









Depois de Beckford, Monserrate passou por mais de meio século de abandono. Lord Byron deu conta disso, aquando da sua passagem por Sintra, em 1809:
Aqui moraste, e aqui sonhaste ser feliz, Vendo ao longe a montanha: a beleza imutável. Agora, este local parece amaldiçoado: Teu palácio está só como tu próprio és só. (Childe Harold’s Pilgrimage, 1809).




Azevinho


O Vale dos Fetos

Por volta de 1850 surgiu em Inglaterra a moda de se coleccionarem fetos. Quando se iniciaram as obras em Monserrate, naturalmente, também se decidiu incluir uma colecção de fetos no jardim. Escolheu-se um vale entre a cascata e a capela por ser a zona do parque com as melhores condições de luminosidade e humidade e também pela originalidade, pois o sítio normalmente escolhido eram estufas.







Aqui está a ruína de uma capela, envolvida em árvores da borracha. Por volta de 1840, o rei D. Fernando II adquiriu as ruínas do velho convento da Pena e toda a sua envolvente, com o objectivo de ali construir um palácio, rodeado de sumptuosos jardins ao estilo inglês. Como D. Fernando possuía uma ruína genuína na sua Pena, Sir Cook mandou construir a sua própria "ruina", a capela que encerra a história do nome da propriedade.











Há plantas a sair pelas janelas.


A bunia-bunia, uma conífera cujas pinhas podem chegar a pesar 10 quilos!